A completa derrocada do mercado das motos de 50 cc, chamadas popularmente de cinquentinhas ou ciclomotores, mostra como uma decisão equivocada pode mudar completamente um cenário de mercado. O que antes funcionava mal e precisava de regulamentação técnica, criteriosa e justa para tornar-se um mercado promissor e que geraria mais riqueza ao País e opções de transporte e trabalho a milhões de consumidores, simplesmente virou pó em pouco tempo.
A determinação do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) do dia 31/7/2015 para que os ciclomotores assem a ser licenciados e emplacados normalmente pelos Detrans, da mesma maneira que todos os outros veículos automotores no Brasil, acabou com o mercado de ciclomotores no Brasil. Com a determinação, acabou o interesse dos consumidores nos ciclomotores e as marcas que mantinham produtos nesse segmento – Shineray, Traxx e Dafra, principalmente – simplesmente descontinuaram suas linhas de produtos, tanto a produção local quanto a importação.

Para se ter uma ideia do tamanho desse mercado (no link você pode ler o excelente artigo de Luis Sucupira sobre o assunto), em 2015 foram importados 135.416 ciclomotores para o Brasil e outros 32.032 foram produzidos em Manaus (AM) pela Traxx e Dafra, empresas associadas à Abraciclo. Desse volume de 167.448 motos, apenas 17.011 foram emplacadas, segundo dados do próprio Denatran. Imaginavam as autoridades um acréscimo significativo de tributos e licenças com a regulamentação, mesmo porque ela é retroativa, ou seja, ciclomotores usados também devem ser licenciados.
Mas o efeito foi inverso. O alto custo para licenciar (o veículo) e obter um licença (o condutor) para conduzir, na maioria dos casos chega bem próximo do valor do veículo. Feitas as contas, a medida jogou o segmento que deveria ser a base do mercado brasileiro de motocicletas na lata do lixo, literalmente. O que deveria ter sido uma regulamentação compatível ao custo e uso do veículo, preferiu equiparar os ciclomotores com motocicletas e o resultado está aí. A Dafra, única empresa afiliada à Abraciclo (associação que reúne os fabricantes de motocicleta no Brasil) abandonou o segmento de ciclomotores, assim como outras marcas também o fizeram.
É verdade que o dinamismo do mercado está constantemente alavancando segmentos específicos ao mesmo tempo em que põe outros em declínio, mas não é certo que isso ocorra por meio de decretos e regulamentações. Um bom exemplo é o crescimento do segmento de scooter enquanto que o de motos básicas street urbanas se mantém estagnado. São circunstâncias de mercado que fazem com que isso ocorra e não uma nova regulamentação ou outro fator externo ao próprio mercado.
Ciclomotores: é o fim da produção
O fim da produção da Zig 50 e sua irmã, a Super 50, foi confirmada pela própria Dafra, que também comentou sobre o trabalho pós-venda da marca, incluindo o número de concessionárias e o à peças de reposição, tema frequente de reclamação por parte dos consumidores da marca. Segundo a Dafra, a produção de veículos de 50 cc foi interrompida e a marca segue apenas comercializando as poucas unidades remanescentes no estoque da rede de concessionárias da marca, motivo pelo qual a Zig ainda aparece à no site da empresa. Para o gerente nacional de marcas da Dafra, José Ricardo Siqueira, esta manobra se deu em virtude da queda nas vendas dos ciclomotores. “O mercado de ciclomotores reduziu muito e as expectativas de recuperação desse segmento a médio prazo não são favoráveis, portanto não estão previstas novidades a médio prazo”, disse Siqueira.
Além disso, também cremos que outros fatores contribuíram para o desinteresse dos consumidores por estes veículos (e a consequente queda nas vendas), principalmente a obrigatoriedade de habilitação específica e emplacamento para rodar com os ciclomotores – encarecendo algo que tinha como principal atrativo o baixo custo de operação diante de motocicletas e motonetas, como a Honda Biz ou Yamaha Crypton, por exemplo. Fato é que a venda dos modelos caiu consideravelmente após o arrocho na legislação sobre o uso dos veículos de 50 cc. A Zig 50, por exemplo, surgiu em 2011, e chegou a comercializar mais de 15 mil unidades em um ano, número que caiu para cerca de 500 em 2017. Uma queda muito maior que a do setor, que encolheu mais de 50% no mesmo período.
VENDAS AO ATACADO – DAFRA ZIG 50 E SUPER 50 |
||
ZIG 50 | SUPER 50 | |
2011 | 7.995 | 7.963 |
2012 | 14.352 | 2.478 |
2013 | 15.621 | 1.609 |
2014 | 9.701 | 2.434 |
2015 | 4.661 | 628 |
2016 | 1.023 | 418 |
2017 (jan a nov) | 510 | 775 |
TOTAL | 53.863 | 16.305 |
Dafra: centro de distribuição com mais de 11 mil itens
Sempre que falamos na marca, seja sobre seus lançamentos ou a respeito de motos que gostaríamos de ter em nosso mercado (como a Apache RR 310), surgem comentários negativos sobre o pós-venda. São críticas ao número de concessionárias, distribuição geográfica das mesmas pelo Brasil e dificuldade para encontrar peças de reposição. Segundo a Dafra, hoje são 100 pontos de venda completos e outros 100 específicos para assistência técnica espalhados pelo País, sendo a maioria dispostos na região Sudeste – mas com atuação em todas as cinco regiões. Este número deve crescer aos poucos, à medida em que o mercado se recupera da crise, “porém estamos muito conscientes que o momento ainda requer cautela, portanto a ampliação virá desde que haja viabilidade para esses novos negócios”.
Questionada sobre os relatos de dificuldade no momento de encontrar peças nas prateleiras das lojas, a Dafra destacou que possui um centro de distribuição de peças na cidade de Itajaí/SC, que istra mais de 11.000 itens e que “tem condições de atender em dois dias as principais regiões do país, caso a peça procurada não esteja disponível nas concessionárias”. Aproveitando a oportunidade, José Ricardo Siqueira reforçou que a empresa investe “constantemente em treinamento e qualificação dos colaboradores das áreas técnicas das concessionárias” e que “muitos concessionários têm investido no mercado de venda online de peças e órios, criando mais esse canal de atendimento. Mesmo assim entendemos que os clientes estão cada vez mais exigentes e nossa meta é seguir em constante evolução”.