Os números são muito consistentes e por vários ângulos que se analise, o desempenho de venda de motos no Brasil em 2018 mostra que há uma sólida retomada do ciclo de crescimento do mercado brasileiro. Apesar de ser apenas o início da retomada, desta vez os números mostram crescimento mais equilibrado e distribuído por vários segmentos, tamanhos e marcas de motos, ao contrário do que ocorreu no ciclo anterior – de 2.000 a 2.011 – quando o mercado cresceu com vendas concentradas e estimuladas apenas pelo crédito fácil.
O melhor sinal da inconsistência daquele ciclo de crescimento, aliás, foi a enxurrada de novas marcas que apareceram com operações aventureiras e enganosas (aos consumidores, claro) e que ao primeiro sinal de dificuldade desapareceram (2009 a 2012). Seguiu-se um período duríssimo pelo qual o setor de motos ou, com seis quedas consecutivas (2012 a 2017). Esse calvário fez amadurecer as operações da indústria e das redes de distribuição e o resultado parece ser uma base sólida e pronta para sustentar por longo prazo esse novo ciclo de crescimento. E vários números corroboram esse otimismo.
Antes de analisar o desempenho de cada marca, é importante destacar que ainda aparecem nos emplacamentos cerca de 20 marcas de motos sem qualquer expressão. Algumas já estiveram por aqui, como Sundown, Kasinski e Traxx, e outras são marcas completamente desconhecidas e com nomes esquisitos. A soma dos emplacamentos destas marcas todas representa 0,9% do total do mercado brasileiro. Das 14 marcas que consideramos nesta análise, 9 apresentaram crescimento em 2018 quando comparado com 2017. As duas principais marcas – Honda e Yamaha – tiveram crescimento praticamente igual – 11,8%, mas é significativo que ambas cresceram acima da média do mercado, que avançou 10,8%, sobretudo levando em consideração que ambas juntas somam 93% das vendas de motos no Brasil.
Das 938.140 motos vendidas em 2018, 93% foram Honda e Yamaha (79,4% Honda e 13,7% Yamaha), o que representa um volume de 873.909 motocicletas. Essa forte concentração ainda é fruto da presença marcante, principalmente da Honda, nos segmentos das motos street, motonetas e scooter. Os 7% restantes estão distribuídos entre as outras 12 marcas mais presentes e conhecidas, além daquelas outras tantas absolutamente desconhecidas, mas que aparecem nos mapas de emplacamentos registrados pelo Denatran e divulgados pela Fenabrave – Federação Nacional dos Distribuidores e Veículos Automotores – fonte dos números desta reportagem.
Para agregar algumas informações, buscamos os dados oficiais da Abraciclo sobre o número de funcionários, capacidade de produção e concessionárias no Brasil das empresas fabricantes de motocicletas associadas à entidade. E alguns dados são bem representativos como a diferença de produtividade entre Honda e Yamaha, que é muito grande a favor da Honda (149 contra 61 motos por funcionário). Outra curiosidade sobre o tema são os números idênticos para Harley-Davidson e Triumph (54 motos por funcionário), o que levanta um questionamento para a BMW, que vende mais, tem mais funcionários, mas seu índice fica bem abaixo (41 motos por funcionário).
Marca |
Venda em 2018 | % de mercado | Empregos diretos | Número de lojas | Capacidade de Produção (anual) |
Produtividade (Venda por funcionário direto) |
|
1º | Honda | 745.027 | 79,42% | 5.000 | 1.100 | 1.600.000 | 149 |
2º | Yamaha | 128.882 | 13,74% | 2.100 | 324 | 300.000 | 61 |
3º | Haojue | 9.319 | 0,99% | n/d | n/d | n/d | n/d |
4º | Shineray | 9.246 | 0,99% | n/d | n/d | n/d | n/d |
5º | BMW | 7.162 | 0,76% | 175 | 41 | 10.000 | 41 |
6º | Kawasaki | 5.943 | 0,63% | 180 | 33 | 20.000 | 33 |
7º | Harley-Davidson | 5.747 | 0,61% | 107 | 21 | n/d | 54 |
8º | Suzuki | 5.605 | 0,60% | 223 | 313 | 300.000 | 25 |
9º | Triumph | 4.397 | 0,47% | 82 | 15 | 7.000 | 54 |
10º | Dafra | 4.161 | 0,44% | 192 | 80 | 30.000 | 22 |
11º | Kymco | 1.257 | 0,13% | n/d | n/d | n/d | n/d |
12º | Ducati | 998 | 0,11% | 55 | 7 | 2.000 | 18 |
13º | KTM | 749 | 0,08% | n/d | n/d | n/d | n/d |
14º | Royal Enfield | 522 | 0,06% | n/d | n/d | n/d | n/d |
Outras marcas | 9.125 | 0,97% | n/d | n/d | n/d | n/d | |
TOTAL | 938.140 | 7.967 | 2.081 | 2.269.000 |
Uma surpresa no ranking nacional de vendas por marca é a presença da chinesa Haojue na terceira posição com menos de 1% de participação (9.319 motos). A Haojue e a Kymco foram trazidas ao Brasil em 2017 pela JTZ, empresa “irmã” da JTA – João Toledo da Amazônia – que monta as motos Suzuki no polo industrial de Manaus (AM). Apesar de não ser possível confirmar, pois ninguém na JTZ ou na JTA fala sobre o assunto, tudo leva a crer que as motos das três marcas (Suzuki, Kymco e Haojue) são montadas na mesma fábrica em Manaus, inclusive porque todas são distribuídas pelas mesmas lojas em todo o Brasil.
Praticamente junto na terceira posição do ranking nacional de venda de motos está a outra chinesa, Shineray, que ainda tem expressiva participação nos emplacamentos de ciclomotores (cinquentinhas) no Nordeste do País e que distribui suas motos a partir de uma operação no estado de Pernambuco. Sobre ela também pouco se sabe pois a empresa não se comunica oficialmente com a imprensa e também ninguém fala no assunto. Por fim, outro número que chama a atenção é a vertiginosa queda da Dafra, que vendeu em 2018 apenas 10% do volume vendido pela marca em 2011 (44.059 contra 4.161).
Mas a Dafra, que assumiu a posição de “marca brasileira de motos”, montando por aqui bons modelos de motocicletas de outras marcas fabricantes na India (TVS), China (Haojue) e Taiwan (SYM), não conseguiu consolidar sua operação. No entanto, a empresa, que durante alguns anos montou as motos da BMW em sua unidade em Manaus, hoje segue sendo a montadora para a italiana Ducati e a austríaca KTM. Para esta última a Dafra é também responsável pela rede de distribuição e vendas. Curiosamente, as três marcas – Dafra, Ducati e KTM – são, junto com Shineray e Suzuki, as que venderam menos motos em 2018, apesar do crescimento geral do mercado.