Tem uma dúvida que paira na mente de apaixonados por motos trail há quase 15 anos. Tornado ou Lander, qual é a melhor? Para ajudar quem está procurando uma usada e não sabe se vai de Honda ou Yamaha, de XR ou XTZ, nós relembramos aqui o célebre teste comparativo que fizemos entre as rivais.
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O ano era 2006 e a Tornado tinha uma vida tranquila. Sem concorrentes à altura, emplacou mais de 18 mil motos no calendário anterior contra pouco mais de 2 mil da XT 225. Ou seja, vendia quase 700% mais que a principal rival.
Aparentemente adormecida, a Yamaha lançou sua nova representante no segmento com o objetivo de resgatar seu histórico de sucesso em motos trail, envolvendo nomes como XT 600Z Ténéré e DT 180. A XTZ 250 Lander tinha plataforma inédita, motor da YS 250 Fazer e avanços ausentes na Tornado, como injeção eletrônica. Mas será que era superior? Relembre o teste entre Tornado e Lander!
O xis da questão: Tornado ou Lander?
Antes de começar a leitura, vale lembrar que o teste foi publicado em dezembro de 2006. e o arquivo original aqui.
Pare imediatamente de ver as fotos e preste atenção! Esse não é um teste com a finalidade de identificar qual a MELHOR, porque esse julgamento não cabe ao testador, mas ao consumidor. O conceito de “melhor” varia conforme a necessidade e histórico de cada um. O que é melhor para mim, pode ser pior para você e vice-versa. Portanto, ao terminar de ler esse comparativo não aperte a tecla “print” para esfregar na cara do seu amigo que tem uma Tornado ou uma Lander berrando no ouvido dele “Viu, seu mala a minha é melhor que a sua!”.
Outra observação TFR (Tirar o Fiofó da Reta) é a seguinte: os valores que aparecem em um teste são uma REFERÊNCIA, que nós usamos para saber como uma moto se comporta. Muitas vezes uma simples rajada de vento é suficiente para aumentar ou diminuir em até 2% o resultado das medições, por isso escrevemos “a moto fez X km/litro, ou atingiu Y km/h”, sempre no ado. Porque a moto conseguiu as marcas no teste, não significa que TODAS as motos tenham os mesmos resultados.
Teste: mais de 2.000 km rodados
Esse teste foi realizado em duas fases. Na primeira, com tempo bom, (sol e calor) fui acompanhado de um amigo ao interior de SP e aproveitamos para fazer várias medições de velocidade e consumo; com e sem garupa. Na segunda etapa fui com o Leandro Mello até Ilhabela, debaixo de chuva e frio.
Ao total foram mais de 2.000 km de estradas de asfalto, terra, montanha, nível do mar e com 4 motos diferentes (duas Tornado e duas Lander). Portanto, você está diante do mais completo teste realizado com esses dois modelos. Mas se quiser saber a opinião dos proprietários destas duas motos ou sobre outras motocicletas, consulte o Guia de Motos do Motonline. Bom proveito!
Numa manhã de chuva…
Uma semana de chuva transformou a região Sudeste do país numa imensa poça d’água. O cinza tomou conta de tudo e naufragou o humor das pessoas. Completando o cenário, as temperaturas caíram a níveis patagônicos. Sair da cama às cinco da manhã só mesmo por um motivo muito nobre.
E foi sob uma chuva de palavrões que recebi a ligação do Leandro Mello avisando que estava pronto pra viajar em meia hora. Destino: Ilha Bela, litoral norte de São Paulo. Veículos: a nova Yamaha XTZ 250 Lander e a concorrente Honda XR 250 Tornado.
As duas 250 se caracterizam pelo estilo misto, cidade-campo, e por isso mesmo fizemos um roteiro com cidade, estrada de asfalto, trilha, serra, com e sem garupa. Cinco horas depois desta ligação estávamos ambos atolados em uma trilha lamacenta a caminho da praia do Bonete.
Começamos nossa maratona numa fria manhã em direção à rodovia Ayrton Senna, segurando nossa vontade de acelerar. Seguimos um planejamento que obrigava a viajar a uma velocidade abaixo de 100 km/h para estabelecer uma média de consumo. Como existe uma diferença de 20 kg e 25 cm entre eu e o Leandro, trocávamos de moto a cada 50 km para evitar distorções nos resultados. Em motos pequenas a diferença de peso tem um papel fundamental no desempenho e consumo.
Consumo: Tornado ou Lander
O primeiro abastecimento nos surpreendeu. A Lander fez média de 29,2 km/litro, enquanto a Tornado fez 30,2. A vantagem da injeção eletrônica da Yamaha foi anulada pela sexta marcha da Honda. O câmbio de seis marchas da Tornado oferece uma espécie de “over drive” nas estradas planas, permitindo que o motor funcione em rotação mais baixa.
Já o câmbio de cinco marchas da Lander perde em consumo, mas representa uma enorme vantagem nas retomadas de velocidade e quando a estrada começa a subir! Enquanto o piloto da Tornado é obrigado a reduzir uma marcha, na Lander basta girar o acelerador que a retomada de velocidade empurra a moto ladeira acima.
Em uma das trocas de piloto percebi que a Yamaha optou por manoplas lisas e macias, além de montar o guidão da Lander sobre coxins de borracha. Estes dois detalhes reduziram muito a vibração para as mãos do piloto. Em termos de conforto a Lander tem ainda a favor o banco mais largo, enquanto na Tornado uma das grandes reclamações dos usuários é com relação ao banco muito estreito.
Velocidade máxima
Terminada a fase dos 100 km/h decidimos tirar a dúvida que não quer calar: qual “anda” mais? Se você está se torturando com essa curiosidade, sinto em informar que a resposta é uma ducha fria. Elas são absolutamente idênticas na velocidade máxima. Fizemos dezenas de medições, trocamos de piloto várias vezes e os números continuavam irritantemente iguais no velocímetro digital de ambas: 136 km/h!
Na primeira medição feita entre São Paulo e Minas Gerais, a 1.000 metros de altitude, os resultados foram: a lander atingiu 138 km/h e a Tornado conseguiu 135 km/h, no plano. Com um erro médio de 10% no velocímetro das duas motos, a velocidade efetiva de ambas fica em torno de 122 km/h, totalmente dentro do previsto para a categoria.
É bom lembrar a segunda medição foi feita no plano, ao nível do mar, nos dois sentidos. Quando pegávamos alguma pequena descida os velocímetros chegavam a 142 km/h!
Hora de encarar curvas de serra
Chegamos a uma serra daquelas deliciosas, cheias de curvas, vazia e ainda com asfalto seco. A Tornado inclina nas curvas até quase raspar as pedaleiras no asfalto, com muita firmeza. Já a Lander exige mais cuidado na hora de deitar porque a frente tem a tendência de alargar a trajetória. Em curvas fechadas essa tendência fica mais evidente.
No final da serra encontramos uma longa reta para novamente tirar a dúvida da velocidade máxima e mais uma vez deu empate. Ou seja, se alguém chegar alegando que “deu pau” em uma Tornado ou Lander com a moto concorrente pode desmentir na hora. Só se o problema estiver no piloto.
E no off road, qual é a melhor?
Assim que atravessamos a balsa de São Sebastião em direção à Ilha Bela, decidimos pegar a trilha para a baía de Castelhano. A estrada de terra estava molhada, com poças e trechos de lama, bem do jeito que queríamos. Recalibramos os pneus para enfrentar o novo piso e nossa alegria duraria apenas alguns poucos quilômetros: a defesa civil acabara de interditar a estrada por causa de avalanches de terra.
Então lembrei de uma trilha onde quase morri de tanto esforço ao enfrentá-la de bicicleta cinco anos antes. O destino era a praia do Bonete, no lado Sul da ilha. Assim que decidimos parar de alimentar os borrachudos com nosso sangue, partimos para o sul, sedentos de aventura. Quanta ingenuidade.
A trilha iniciou tranquila, com trechos bem aderentes, até começar a chover! Enfrentamos uma sequência de subidas e descidas de pedra, terra, areia e muita lama. Aquela lama que gruda em tudo e recobre todo o pneu com uma camada melequenta e escorregadia. Depois de empurrarmos as motos morro acima a chuva aumentou e percebemos que nossa trilha tinha – literalmente – ido por água abaixo! Ainda tentamos continuar, mas era um esforço exagerado para poucos metros de resultado.
Com os bofes de fora decidimos que era hora de parar e fazer o primeiro balanço da viagem-teste. Pelas nossas conclusões, a Yamaha tem as mesmas características da Fazer: motor mais ágil, melhor resposta em baixa e média rotações e funcionamento mais suave, embora seja muito barulhento. Já a Honda tem um motor com respostas mais lentas, mas que se sente mais à vontade em alta rotação.
Consumo #Parte2
No fora de estrada a Lander surpreendeu pelo consumo muito melhor, ao fazer 29,3 km/litro contra 23,8 km/litro. A explicação está justamente no motor da Yamaha de duas válvulas com comando simples, que tem melhor retomada e que consegue rodar só com a casquinha do acelerador. Já a Tornado, com cabeçote de quatro válvulas e duplo comando exige mais afinco na hora de acelerar para a moto responder.
Como a trilha exigia muitos momentos de gás aberto, a Honda acabou gastando mais. Porém o câmbio de cinco marchas da Lander demonstrou uma escolha complicada para trilha. A vantagem do câmbio de seis marchas é poder escalonar melhor as relações. A Tornado tem as três primeiras marchas curtas, quarta e quinta médias e a sexta longa. Já a Lander tem as duas primeiras curtas, a terceira média e quarta e quinta longas. Em muitas ocasiões a segunda marcha da Lander era curta demais e a terceira longa demais e o piloto ficava rezando por uma “segunda e meia”.
Já em termos de suspensão, apesar de ambas aplicarem a mesma receita de mono na traseira e bengalas convencionais na dianteira, a suspensão da Tornado é mais progressiva, enquanto a Yamaha apresenta um funcionamento mais áspero. Além disso a Lander afunda mais quando sob o peso do piloto, porém a regulagem da mola estava em uma posição intermediária e a regulagem é de fácil o. Já a regulagem da Tornado exige a desmontagem complicada demais!
De volta para SP, à noite
A volta para São Paulo foi debaixo de um toró sem trégua. Ruim? Não, porque ainda piorou: antes mesmo de chegar à divisa com Guarujá (SP) escureceu totalmente. À noite, frio, neblina e com chuva. E ainda tem gente que gostaria de ser piloto de teste! Quando escureceu pudemos comprovar a grande diferença entre os faróis. Ambas têm lâmpadas de 35W, mas a lente da Lander espalha mais a luminosidade, enquanto na Tornado ela é mais concentrada.
A subida da Imigrantes foi o momento no qual a Lander revelou a vantagem do câmbio de cinco marchas. A estrada tem uma inclinação constante e quando era preciso aliviar o acelerador a Lander rapidamente voltava a velocidade, enquanto a Tornado exigia a redução de marcha e que se traduz em perda de tempo e gasto de gasolina.
Consumo de Lander e Tornado na cidade
Se existe uma condição na qual a injeção nada de braçada é no percurso urbano. A Lander é um escândalo de economia, com média de 35,3 km/litro, rodando sempre abaixo de 90 km/h e trocando as marchas com até 5.000 rpm. Mas a Tornado não fica muito atrás, com média de 29,2 km/litro, porém sem conta-giros é mais difícil de controlar as trocas de marchas.
A última avaliação comparativa foi uma viagem curta com as duas com piloto e garupas. O roteiro misturou cidade, estrada e um trecho curto de terra (felizmente seca) só para torturar nossas companheiras (as humanas, no caso). Com garupa a suspensão da Lander afunda bastante, acentua o funcionamento áspero e quem vai na garupa sofre mais as pancadas na coluna. Esse afundamento da Lander é ainda mais acentuado quando se roda com duas pessoas, a ponto de deixar o farol alto! Já a Tornado continua progressiva e macia mesmo com lotação completa.
Conclusão: qual a melhor, Tornado ou Lander?
Nunca foi tão difícil concluir um comparativo. Apesar de muitos itens totalmente diferentes, elas têm comportamento e desempenho muito próximos. Até itens como freio a disco traseiro, rodas e balanças de metais diferentes, na prática, se mostram equivalentes. A maior surpresa foi constatar que a Tornado freia melhor, mesmo com freio traseiro a tambor. Na verdade, o freio dianteiro da XTZ 250 se mostrou excessivamente borrachudo, enquanto a Tornado estava mordendo com muita vontade.

A escolha, como já foi explicado, é uma das mais difíceis, mais ainda do que em relação às outras 250 Twister e Fazer. Um resumo mais fiel é que a Yamaha apostou no uso de sua off-road mais na cidade, por isso fez uma moto para atender aqueles que prezam o conforto de uma suspensão de curso maior, mas também derrapou em itens que podem prejudicar o uso em trilhas, como a posição do cilindro mestre do freio traseiro e a mangueira ando sob a balança, vulnerável demais. Por outro lado, se a balança é de aço, sobra espaço para usar pneu traseiro mais cravudo e largo.
Já a Tornado se adapta mais facilmente ao fora de estrada, mas seu banco estreito e o farolzinho atrapalham a vida de quem pensa em viajar na estrada. A balança traseira é de alumínio, mas não tem muito espaço para usar pneu mais largo, nem mais off. Outro detalhe que reforça essa diferença de natureza entre elas é a presença de uma guia de corrente na Tornado, nem como uma corrente mais grossa (520).
De concreto pode-se afirmar apenas que a Lander foi mais econômica em alguma situações e a Tornado em outras. O desempenho foi rigorosamente igual. Até no preço elas se equivalem: R$ 10.990.
Uma coisa é certa: a Yamaha foi uma das primeiras marcas do mundo a apostar no segmento on-off road e sua tradição neste segmento é mundialmente reconhecida. Ao criar duas motos de 250 cc com injeção eletrônica ainda deu um recado ao mercado: a empresa pode ter demorado para tomar algumas decisões no Brasil que a levaram a ficar tão atrás da Honda, mas alguma coisa aconteceu porque decidiram tirar o atraso de uma só vez!
Ambas “X”, XTZ e XR são motos que atendem ao público que curte esse segmento misto cidade-campo. Quer saber? Eu não gostaria de estar na pele de quem tem a missão de escolher entre uma das duas!